A taxa de juros é, seguramente, a variável macroeconômica mais acompanhada pelos agentes econômicos e analistas do mercado devido à sua importância nas decisões de consumo dos indivíduos, nas escolhas do empresariado por investimentos produtivos e no endividamento público. A seguir explicarei de forma mais detalhada os impactos em cada um dos itens mencionados.
Antes, porém, é imperativo explicar como funciona a precificação da taxa básica. Simples. A taxa de juros tem como base o cálculo da taxa média das operações de financiamento que têm como lastro os títulos públicos federais. Ou seja, o quanto o governo federal estiver oferecendo para captar recursos frente a investidores individuais, bancos, dentre outros, serve como referência para a obtenção da taxa básica.
Agora voltemos para os três aspectos citados anteriormente. O primeiro é a influência da taxa básica no consumo dos indivíduos. Ora, quanto mais elevada a taxa de juros, maior será a propensão das pessoas em disponibilizar suas poupanças em aplicações financeiras atreladas aos juros básicos ou em adquirir diretamente títulos do governo federal mediante o tesouro direto. Com menos recursos disponíveis, o consumo das famílias tende a diminuir substancialmente, controlando dentre muitas variáveis, a tão temida inflação.
E quanto aos investimentos produtivos? Todos nós sabemos que investimentos produtivos – aquisição de novas máquinas, por exemplo – só fazem sentido quando o retorno que vamos obter for maior do que a taxa básica de juros. Caso contrário, por qual razão iremos arriscar se podemos ter um rendimento maior colocando o dinheiro no banco? Portanto, quanto maior for a taxa de juros, menor será a disposição dos empresários em investir em uma maior produção futura mediante a aquisição de equipamentos. É por isso que se fala que uma taxa básica menor estimula o crescimento da economia.
E nosso terceiro item é o endividamento público. O governo tem como fontes de receitas principais a arrecadação tributária e a emissão de dívida (títulos públicos), pagando aos seus credores nessa segunda modalidade a taxa básica. Nesse caso, quanto maior for a taxa de juros, mais atrativos estes ativos se tornarão perante o mercado. Com certeza isso atrairá investidores, mas por outro lado a rolagem da dívida se tornará mais onerosa aos cofres públicos. E isso pode trazer muitas incertezas aos mercados financeiros.
De que forma? Os mercados observam atentamente os rendimentos exigidos pelos investidores para a manutenção desses papéis em suas carteiras, sendo que um pico de alta pode apontar descrédito quanto à capacidade governamental de honrar seus compromissos. É a situação atual da Europa. Muitos países que, literalmente, torraram dinheiro para sustentar uma estrutura burocrática onerosa e ineficiente agora tremem toda vez que precisam promover leilões de dívida em decorrência dos juros cobrados pelo mercado.
Portanto, a taxa de juros é o diferencial oferecido pelo governo federal para convencer os investidores a concederem empréstimos para o “melhor” pagador da praça – tanto em momentos de bonança como em períodos de agitação econômica. Entretanto, vale salientar que alterações na taxa básica não têm efeitos apenas nos três itens mencionados no início do texto, impactando também de forma substancial a cotação do dólar e, por conseguinte, as exportações e importações nacionais, além das contas nacionais.
O Brasil é um paraíso, já que temos uma taxa básica de juros bastante elevada comparativamente com outros países. Dessa forma, o fluxo de capital à procura de aplicações financeiras de renda fixa é bastante substancial – o que gera uma oferta significativa de dólares no país. Com uma oferta elevada, a moeda americana se desvaloriza frente ao real – cuja demanda aumenta pela necessidade de nacionalizar recursos dolarizados. Com o poder de compra maior do real no mercado internacional – no qual as transações comerciais ocorrem em dólar -, as exportações brasileiras perdem competitividade. O setor exportador começa logo a reclamar.
Por outro lado, os insumos e maquinários utilizados pelas indústrias que são oriundos do exterior se tornam mais baratos em decorrência da valorização do real frente ao dólar. Os consumidores passam a adquirir produtos importados, o que prejudica os produtos nacionais. Além disso, com um real mais forte as famílias aproveitam o maior poder de compra da moeda brasileira para viajar ao Exterior, prejudicando a economia como um todo.
O Brasil carece de investimentos que acompanhem a forte demanda gerada pelo aumento da renda da população e as facilidades de crédito oferecidas pelo sistema financeiro. Por isso, a taxa de juros permanecerá como um instrumento crucial para o controle do consumo e, por conseguinte, da indesejada inflação. Nesse cenário, os produtos financeiros de renda fixa, especialmente os pós-fixados que acompanham as oscilações da taxa básica da economia, continuarão sendo boas opções de investimentos para os mais conservadores.
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7 Comentários
Interessante a publicação.
Não sei se poderiam me esclarecer ao certo: a influência entre a dívida pública sobre a inflação e sobre a taxa de juros, e como é que elas se relacionam, ou seja, mudanças nos níveis da dívida pública como é que pode influenciar a inflação e a taxa de juros.
Peço referencias bibliográficas ou fontes acompanhadas da respostas!
Att.
Olá,
Muito bom o post, parabéns!