“COMO COMPRAR A FELICIDADE” – Gustavo Cerbasi
O artigo de Gustavo Cerbasi é muito importante quando faz lembrar a conexão entre a compra da felicidade, através do consumo, que foi estudada por Bauman, em “A Modernidade Líquida e a Globalização”. É a questão de como o consumo gera uma insatisfação que alimenta o próprio consumo e como as pessoas buscam a felicidade ou no fim das contas, de como procuram comprar a felicidade.
Vivemos em uma sociedade em que o consumo divide as pessoas, entre os que podem e os que não podem consumir. Muitas pessoas, quando não conseguem o objeto do desejo de consumo chegam ao nervosismo e a não dormir a direito.
O consumidor é movido pela promessa da felicidade. Mais do que o simples fato de possuir, as pessoas buscam nos produtos a excitação de uma sensação nova. Podemos dizer que os consumidores se tornaram acumuladores de sensações!
Quando chegamos a essa roda viva de sensações que buscamos no consumo, nos tornamos aquilo que pode ser qualificado de “consumidor ideal”, o alvo preferido de qualquer campanha publicitária.
Se o consumidor se tornar plenamente satisfeito poder reduzir o seu consumo. No entanto, esse não é o objetivo do mercado. Pelo contrário, é preciso aumentar a capacidade de consumo e para isso os consumidores precisam ser mantidos alertas sempre e continuamente expostos a sensações e novas tentações, de preferência num estado de perpétua insatisfação. Para o mercado é importante que os desejos sejam mantidos.
Para isso, nada melhor do que a produção daquilo que é efêmero, que não dura. Exatamente para que as atrações e seduções possam continuar indefinidamente. A imitação dos estilos é muito útil e também ajuda a movimentar milhões. O detalhe é que não existe um momento de satisfação e felicidade. Ela é sempre temporária.
A sociedade moderna faz com que a satisfação e felicidade seja sempre adiada, para que “um dia…” possamos alcançar o nosso desejo. Para isso é preciso poupar e trabalhar, em nome desse dia no futuro. Quanto mais trabalhamos mais consumimos e quanto mais consumimos mais trabalhamos, num movimento infinito, adiando a nossa felicidade e satisfação, que é o fundamento do desenvolvimento e crescimento econômico afinal.
Quem sabe “um dia…” teremos o suficiente para consumir tudo que queremos. Não adianta pressa, porque não pode ser “ainda”. Enquanto isso continuamos trabalhando, na esperança de satisfação e felicidade. Esse estímulo é forte, é o poder motivador do desejo, que coloca as pessoas para trabalhar, permanecendo na esperança. Hoje a frase que definiria nossa sociedade seria parecida com “Trabalhadores de todo mundo, desejem!”
Se até bem pouco tempo o adiamento da felicidade nos fez trabalhar, investir e poupar, hoje já passamos para outro estágio, o da sociedade de consumidores. A modernidade valoriza o consumo já, para sermos felizes. Sem perceber acabamos transformando o consumo no supremo propósito da vida.
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