A população brasileira enfrenta a crise econômica que atinge o país. A situação está levando a uma nova tendência que já é notada no comportamento do consumidor, desde o supermercado até o turismo.
Se essa tendência já se delineava anteriormente, agora está em fase acelerada. O que se busca agora é a melhor qualidade e experiência possível, com o menor custo possível!
O consumidor brasileiro está buscando um maior equilíbrio entre o que compra e o que consome, fazendo escolhas sobre onde poupar e onde continuar gastando. Os novos hábitos tornaram chique comprar um produto atraente por um preço baixo. De repente, a simplicidade está virando moda, nem tanto por opção, mas por necessidade.
As pesquisas demonstram que o novo consumidor brasileiro, diante da crise e inflação, está economizando sim, mas nos produtos básicos para conseguir manter o consumo de seus supérfluos e pequenos luxos. Se os cortes nos supérfluos eram o esperado, a realidade está demonstrando o contrário, corta-se o básico para manter o menos essencial. Essa não é apenas uma tendência no Brasil, mas é mundial, conforme pesquisas realizadas.
O comportamento se verifica nas diversas classes sociais. Na classe C, a economia tem sido feita em artigos de limpeza, biscoitos, massas, molhos, condimentos e higiene oral, para manter frios, refrigerantes e doces.
Na classe B e A, os consumidores economizam em laticínios, massas e mercearia, mantendo cereais integrais, bebidas e produtos de higiene e beleza. Nas categorias mais essenciais, são escolhidas marcas com produtos mais baratos. Na escolha de alimentos como carnes, têm preferência os cortes de aves substituindo a carne bovina. Nas categorias onde os consumidores estão dispostos a parar de comprar para economizar estão salgadinhos e congelados, como hambúrgueres e pratos prontos.
O consumidor prefere, portanto, manter seus gastos naquilo que realmente importa para seus hábitos individuais, cortando naquilo que pode ser substituído por preço menor, sem grande desvantagem na qualidade. Esse cenário está mais parecido com o dos países desenvolvidos, onde o consumo deixa espaço para experiências de qualidade.
O comércio de varejo por grandes quantidades, ou atacarejos, também crescem com a tendência de economizar. Fazem sucesso também as lojas com descontos e outlets, tudo que oferece preço baixo para produtos de consumo essencial. São muito procurados os fardos de papel higiênico, embalagens de sabão com 5 quilos, ofertas de shampoo e condicionador conjugados, refrigerantes e cervejas em fardos com dúzias.
Marcas mais baratas vendem mais
Com uma previsão de inflação acima de 9% para 2015 e uma taxa de desemprego acima de 8%, os brasileiros assumiram um comportamento bastante cauteloso quanto ao consumo. Quando vai ao supermercado o consumidor está decidido não somente a reduzir os gastos, mas disposto a experimentar marcas alternativas que tenham preço inferior.
Esse novo comportamento teve o efeito de reduzir as vendas do comércio varejista, mas também beneficiou as empresas que investiram em produtos com preço mais barato, como, por exemplo, aqueles de marcas próprias dos supermercados e grandes redes varejistas.
Segundo o Instituto Data Popular, 83% dos brasileiros passaram a comprar marcas mais baratas, sem deixar de lado sua exigência por qualidade. Depois de ascender à classe média, aqueles que se habituaram a uma maior qualidade e diversidade de produtos, com o aumento de seu poder de compra, tornaram-se exigentes e quando trocam por produtos mais baratos ainda assim exigem qualidade.
Podemos afirmar que se trata de um consumidor com um novo perfil, que é exigente, mas tem restrições de orçamento. É fácil concluir o efeito desses novos hábitos na concorrência do mercado brasileiro e o quanto pode ter efeitos na competitividade das empresas.
Há exemplos nas marcas Unilever, Procter & Gamble, Johnson & Johnson, Monange, Bozzano, Cenoura & Bronze, Esmaltes Risqué, todos eles buscando novas apresentações, inovações nas fórmulas e na produção, para competir com marcas mais caras e até as importadas. O Grupo Pão de Açúcar, especialmente em hipermercados como o Extra, voltados para a classe C, está liderando a categoria de populares com a marca Qualitá, que tem preço 15% mais baixo do que a média. Outros rótulos também serão oferecidos com opções baratas, como Pra Valer, em diversas categorias e Liss, na categoria higiene e beleza.
Para enfrentar a crise a companhias devem investir com ofertas agressivas e pacotes especiais, para atingir um cliente que de outra forma não compraria seus produtos. Os consumidores estão demonstrando que são muito apegados a marcas preferidas em higiene e beleza, mas disposto a trocar e economizar em outras categorias. Essa é uma grande oportunidade que a crise oferece para as empresas!
Viagens nacionais atraem o consumidor neste momento
No atual cenário de desvalorização do real e dólar alto, o consumidor brasileiro também tem mostrado maior interesse por outro tipo de produto no mercado dos negócios do turismo: as viagens nacionais.
Segundo pesquisa do Ministério do Turismo e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicado no boletim Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem, 23% dos entrevistados pretendem continuar viajando nos próximos seis meses e desse total 77,4% pretendem visitar destinos nacionais, o maior índice nos últimos dez anos. Dentre os que desejam viajar pelo Brasil, a intenção de ir para o Nordeste é majoritária, com 47,3% das opiniões. A região Sudeste tem 25,6% das intenções, o Sul, 14,3%, o Norte 7,4% e o Centro-Oeste, 5,4%.
O consumidor brasileiro que está fazendo sua opção de viajar pelo país é movido não somente pelo custo da viagem, mas também se tornou mais motivado por saber que houve uma melhoria de qualidade na infraestrutura dos aeroportos, que foram reformados na época da Copa do Mundo.
Se até alguns anos atrás o preço das passagens aéreas e hotéis no exterior era mais barato do que no Brasil, agora a situação se inverteu e os preços no Brasil estão mais baratos. A nova realidade cria a necessidade de se ampliar cada vez mais os investimentos no turismo no Brasil, aproveitando a crise e a mudança nos hábitos do consumidor. Os investimentos públicos precisam também melhorar a infraestrutura de transportes e de segurança, que são pontos importantes para que o turista continue a fazer sua opção pelo turismo interno.
Se muitos brasileiros não pretendem desistir de viajar por causa do câmbio, a maioria está se adaptando de acordo com as restrições do orçamento. Quando chega a temporada de férias o brasileiro não costuma abrir mão de sua viagem de lazer. Esse movimento está beneficiando os hotéis e resorts nacionais que trabalham com o sistema “all-inclusive”, que inclui refeições e evita gastos extras no destino. São diferenciais que estão sendo aproveitados por agências como a CVC, que trabalham com parcelamento do pagamento, promoções a câmbio mais baixo e outras atrações que aproveitam o momento de demanda em baixa. Ou seja, oportunidades existem e podem ser bem aproveitadas.