A intenção da política econômica é controlar o consumo e dificultar o crédito. Essas seriam as armas para combater a inflação.
O Banco Central, através do Copom – Comitê de Política Monetária, no final de julho de 2015 adotou a taxa Selic de 14,25% ao ano. Anteriormente o patamar era de 13,75% ao ano. É a maior taxa desde 2006, há 9 anos, quando os juros eram de 14,75% ao ano.
O Banco Central indicou que essa taxa de juros permanecerá por muitos meses. O objetivo é conter a inflação na tentativa de que esta chegue à meta fixada, de 6,5%, até o final de 2016.
Efeitos adversos dessa medida tem ocorrido. O nível da atividade econômica brasileira e o desemprego vêm crescendo, mostrando o efeito de crédito e investimento mais caros. Com juros altos e recessão, as empresas estão cortando pessoal e consequentemente a geração de empregos é afetada.
Os analistas financeiros de bancos privados preveem que esta taxa de juros deverá permanecer até o final de 2015, representando o último aumento desde que os juros passaram a serem elevados no mês de outubro de 2014. A expectativa do mercado financeiro é que os juros comecem a cair a partir de janeiro de 2016.
Baixo nível de atividade e juros altos
Com o PIB brasileiro diminuindo e o desemprego aumentando para 6,9% em junho, o maior índice desde 2010, além de inflação maior, pressionada por aumentos de energia elétrica e combustível e queda na atividade econômica, os juros altos têm contribuído para paralisar ainda mais a economia brasileira. A esses fatores soma-se a alta do dólar.
Na primeira semana de agosto o dólar americano subiu 0,72%, passando a R$ 3, 489 na venda. Foi o maior valor desde 10 de março de 2003. Isso acontece em meio a um cenário de instabilidades políticas e expectativas de alta de juros nos EUA, o que contribui para elevar a taxa do dólar em todo o mundo.
A elevação do dólar é muito influenciada pelo fato de os investidores estarem preocupados com a chance de acontecerem novas notícias que afetam a credibilidade do país, em decorrência de problemas políticos.
O dólar mais alto torna mais baratos os produtos exportados pelo Brasil, mas faz com que as compras no exterior sejam mais caras. Os produtos importados ou aqueles que têm componentes importados tornam-se assim mais caros e o custo final pressiona os preços e afeta o consumo.
Os analistas econômicos acreditam que existe a possibilidade de o Brasil entrar em recessão, o que acontece quando ocorre uma retração da economia por dois trimestres seguidos. Ao invés de termos um crescimento do PIB, há uma expectativa de que a economia do país sofra uma retração de 1,76% em 2015, o que nunca ocorreu nos últimos 25 anos.
Inflação
Em junho foi registrada inflação oficial de 0,79%, pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levando-se em conta o primeiro semestre de 2015, a inflação foi de 6,17%, já alcançando a meta prevista de 6,5% para o ano. No período de junho de 2014 a junho de 2015, a inflação ficou em 8,89%. Considerando-se a alta verificada, é possível que a inflação até o final do ano chegue a 9%.
Resultados da alta de juros
Muitos especialistas em finanças avaliam que a alta de juros não está sendo eficaz para controlar a inflação. Se a alta de juros não é acompanhada do controle de gastos públicos, não há o resultado esperado. Ao contrário, o que se vê é um resultado nefasto, quando a atividade econômica industrial e comercial registra perdas, o que leva automaticamente à diminuição de arrecadação de impostos. Com isso o governo não registra a receita necessária para pagar as despesas com os juros da dívida pública. Essa é então uma política que tem sido ineficaz.
Dessa maneira, com as restrições ao crédito, diminuição dos empréstimos, que tem sido rigorosamente controlados pelos bancos, com a queda na geração de empregos e aumento do desemprego, a classe trabalhadora brasileira vem sendo amplamente prejudicada. O consumo interno, que gerava renda e aumento da qualidade de vida dos brasileiros vem caindo e os cortes no orçamento doméstico, até mesmo na alimentação, estão sendo cada vez mais adotados pela população.
O que aconteceu com a economia do Brasil
Nos últimos anos, a economia do Brasil vem decepcionando aos que observavam seu crescimento, já que foi de 2,2% ao ano, em média, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
No período de 2011 a 2014, o ritmo brasileiro de crescimento foi mais lento do que os vizinhos da America Latina e muito mais lento do que o da China ou da Índia. Em 2014, o PIB diminuiu em relação ao ano anterior. O consumo passou a diminuir, alcançando as famílias da classe média, pela primeira vez desde que o PT chegou ao poder, em 2003. Ao mesmo tempo, a despesa pública cresceu e o déficit do orçamento chegou a 6,76% do PIB.
Depois de décadas, o governo brasileiro acumulou uma dívida pública bruta de 62% do PIB, o que é claro, muito menor do que o índice da Grécia, de 175% e o do Japão, de 227%. Mas as taxas altas de juros tornam os empréstimos muito caros. Para que empresas e consumidores consigam empréstimos a preços menos exorbitantes, os bancos públicos atendem ao público oferecendo empréstimos mais baratos, subsidiados. Isso é demonstrado pelo fato de que em 2010 eles representavam 40% do total e em 2014 eles passaram a ser 55% do total de empréstimos tomados.
Com a falta de rigor macroeconômico, o governo adotou diversas intromissões na microeconomia, com uma política industrial desajeitada, protecionismo para alguns setores, como a produção de automóveis e baixas taxas de retorno nas concessões para executar projetos de infraestrutura. Na hora da crise, os subsídios precisam ser cortados e essas atitudes estão cobrando seu preço agora, com o nível de confiança dos empresários caindo abruptamente.
A infraestrutura deficiente, muita burocracia e uma moeda forte foram favoráveis para uma indústria não competitiva. Os consumidores foram os responsáveis pela sustentação da demanda que beneficiou o mercado. Uma baixa taxa de desemprego manteve o nível dos salários, que cresceram bem mais do que o PIB. Enquanto isso, a produtividade dos trabalhadores continuou no mesmo patamar. A procura por emprego aumentou, mas agora há menos empregos.
Para consertar suas finanças o governo está cortando gastos, com seguro-desemprego e outros benefícios, como pensões. Enquanto isso os impostos estão subindo, sobre combustíveis, bebidas e artigos de higiene e beleza. Assim também estão subindo as contas de energia e de água, cuja oferta foi grandemente afetada pela seca recorde em 2014, que ainda se mantém.
A confiança do consumidor está caindo e isso pode ser observada pelas pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, que a compara com os níveis de 2005. Sem dinheiro, o governo não impulsiona os investimentos. Além disso, a Petrobrás, que é o maior investidor do Brasil, está paralisada em meio às investigações sobre corrupção, o maior escândalo que assombra o país. Só a ausência de investimentos da Petrobrás pode reduzir o PIB em um ponto percentual.
O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, determinou o corte de 70 bilhões de reais no orçamento previsto para este ano. E a política monetária não é aliviada, para não enfraquecer ainda mais a credibilidade do Banco central. E a desvalorização do real frente ao dólar está empurrando a inflação para cima e encarece a dívida do Brasil. Segundo o The Economist, se o governo Dilma não pode adotar menores taxas de juros e não pode investir com mais gastos, a recuperação brasileira vai demorar um pouco.